A igreja é inimiga da Ciência? Saiba porque não

“A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição. A religião pode purificar a ciência da idolatria e do falso absolutismo”.

São João Paulo II

É muito comum ouvir que a idade média é a idade das trevas e que a Igreja Católica foi a grande inimiga da razão. Será que isto é verdade? Há um esforço por parte de ateus cientificistas de colocar inimizade entre fé e ciência, de forma particular, apresentar a Igreja Católica como inimiga da razão. Nada poderia ser mais infundado. Basta conhecer um pouco da história da Igreja e verá que ela fez e faz grandes contribuições para o meio científico. Padres cientistas, observatório astronômico, academia de ciências e diversos documentos papais são alguns dos exemplos para ilustrar quanto a relação da Igreja com a ciência é estreita.

São João Paulo II, grande santo deste novo milênio, era estudioso da filologia – ciência que se dedica ao estudo da linguagem – além do polonês e italiano, João Paulo II sabia falar fluentemente inglês, espanhol, francês, português, alemão, russo, ucraniano, grego e latim. Chegou a fazer pronunciamentos em quase 90 línguas. Valorizava de forma grandiosa a ciência e as artes, e foi, durante muitos anos, professor universitário. É dele a encíclica Fides et Ratio – Fé e Razão, que trata da relação entre a fé e a razão. “A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.” A Igreja crê vivamente nisto: não há inimizade entre fé e razão. Recomendo a leitura da encíclica Fides et Ratio. Você pode ler pelo site do vaticano e até mesmo baixar em PDF.

Como cita São João Paulo II, a ciência purifica a religião de tendências supersticiosas, uma vez que a ciência pura nada mais é que a busca pela verdade, derrubando mitos que em nada ajudam no crescimento da fé e da sociedade. Apreciar as descobertas científicas é uma forma de louvar o Criador. A cada lei da natureza que é descoberta, vislumbra-se a inteligência do Criador. É de Albert Einstein a seguinte afirmação: “quem não for capaz, diante da imensidão e o esplendor do universo, de experimentar no mais profundo da sua alma um sentimento de admiração por um Ser Superior, autor de tudo isso, não é digno de ser chamado de ser humano” cita após ouvir palestra proferida por Georges Lemaitre, sacerdote Jesuíta que desenvolveu a teoria do Big Bang.

Sabendo pela fé que Jesus é o caminho, verdade e a vida, e a ciência busca a verdade, não há porque o católico temer a ciência como se ela fosse capaz de destruir a Igreja ou mesmo negar de forma cabal suas verdades. A ciência sempre busca a verdade de como as coisas foram feitas, mas jamais será capaz de explicar o porquê de sua existência. A fé sempre estará à frente da ciência, pois somente pela fé, pela verdade revelada, é possível compreender para que fomos feitos e porque estamos neste mundo. Quero elencar aqui 6 aspectos que demonstram de forma clara que esta inimizade entre a Igreja e Ciência não existe.

1- Universidades

Muitos talvez não saibam, mas é de dentro da Igreja Católica que nasceram as universidades. Atualmente, um padre para ser ordenado, necessita cursar duas faculdades: teologia e filosofia. Toda vez que vir um sacerdote, saiba que ele cursou pelo menos duas faculdades. Digo pelo menos porque muitos padres seguem seus estudos pós ordenação e se tornam, inclusive, doutores e PHDs, não só em matérias religiosas, mas também nas mais variadas ciências. Papa Francisco, por exemplo, é graduado em Química. Conheço pessoalmente sacerdotes formados em direito, medicina, psicologia e comunicação social.

Como explica o professor Felipe Aquino em artigo publicado em seu site, a raiz das Universidades está no século IX com as escolas monásticas da Europa, especialmente para a formação dos monges, mas que recebiam também estudantes externos. Depois, no século XI surgiram as escolas episcopais; fundadas pelos bispos, os Centros de Educação nas cidades, perto das Catedrais. No século XII, surgiram centros docentes debaixo da proteção dos Papas e Reis católicos, para onde acorriam estudantes de toda Europa. A primeira Universidade do mundo Ocidental foi a de Bolonha (1158), na Itália, que teve a sua origem na fusão da escola episcopal com a escola monacal camaldulense de São Félix. Em 1200 Bolonha tinha dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses germanos, etc.). A segunda, e que teve maior fama foi a Universidade de Paris, a Sorbone, que surgiu da escola episcopal da Catedral de Notre Dame. Foi fundada pelo confessor de S. Luiz IX, rei de França, Sorbon. Ali foram estudar muitos grandes santos como Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Tomás de Aquino. A universidade de Paris (Sorbonne) era chamada de “Nova Atenas” ou o “Concílio perpétuo das Gálias”, por ser especialmente voltada à teologia.

 

2 – Teoria do Big Bang

Einstein e o sacerdote Georges Lemaitre

Esta talvez seja a maior surpresa entre os cristãos: quem desenvolveu a teoria do Big Bang foi um sacerdote jesuíta, Georges Lemaitre. Contemporâneo a Albert Einstein, baseou-se em seus estudos da teoria da relatividade para desenvolver a teoria do Big Bang, propondo que o universo está em constante expansão. Para isto, enfrentou a comunidade científica da época, incluindo Einstein. Teve a alegria de ver sua teoria ganhando força quando o astrofísico americano Edwin Hubble provou observacionalmente que as galáxias estavam todas se afastando umas das outras: exatamente como o jesuíta havia previsto, por meios teóricos, apenas dois anos antes.

Ao contrário do que se pensa, a teoria do Big Bang não se opõe ao relato da criação no livro do Gênesis. Cito aqui Alexandre Zabot, astrofísico brasileiro, católico e grande defensor da família:

“Sob vários aspectos, não é compreensível que algumas pessoas se coloquem contra a teoria do Big Bang dizendo que ela contraria o relato do Gênesis. O reconhecimento pontifício recebido pelo padre Lemaître por causa de seu trabalho não é um atestado a favor da teoria. Entretanto, de certo modo, não pode deixar de ser entendido como uma aprovação do trabalho do jesuíta. Também a exegese moderna não lê no Gênesis um relato literal da criação, mas tampouco pode deixar-se levar pelas interpretações puramente materialistas. Estas, disfarçando-se de científicas, tentam confundir as pessoas argumentando que não há mais lugar para Deus na criação do mundo. Pelo contrário. Para o crente, fiel ao magistério da Igreja, há sempre um lugar privilegiado para Deus. Deve-se deixar sempre bem claro que a ciência explica o “como” (a teoria do Big Bang), mas não o “porquê” (Deus, para Sua glória e por causa de Seu amor).”

 

3 – Padres Cientistas

Durante estes 2000 anos de história, a Igreja Católica trouxe inúmeras contribuições para a formação de nossa sociedade, as quais quero destacar alguns grandes sacerdotes cientistas católicos:

Gregor Mendel – Pai da Genética

Considerado “O Pai da Genética”, foi um monge cristão que se opôs ao Darwinismo. Ao estudar ervilhas, um monge católico chamado Gregor Mendel (1822 – 1884) fez as descobertas científicas que deram origem a Genética.

 

 

Guido d’Arezzo – Sistematização do sistema musical

O sistema para representar as notas musicais foi criado pelo monge Guido d’Arezzo, que viveu na Idade Média, entre 992 a 1050.

 

 

 

Giovanni Battista Riccioli – Crateras Lunares

Cada cratera da lua tem um nome, conforme um sistema de nomenclatura criado pelo astrônomo e sacerdote jesuíta Giovanni Battista Riccioli (1598–1671)

 

 

 

4 – Freiras Cientistas

Não foram apenas os padres que deram contribuições para a ciência na igreja. Grandes mulheres, freiras, também o fizeram. Destaco algumas:

Irmã Mary Kenneth – Doutora em Ciência da Computação

Nascida em Ohio, foi uma freira norte-americana, educadora e pioneira na ciência da computação. Em 7 de junho de 1965, junto de Irving Tang da Universidade Washington em St. Louis, se tornaram os primeiros doutores na área no país. Mary é considerada também a primeira mulher a receber um doutorado em ciência da computação. Keller ganhou a titulação na Universidade do Wisconsin-Madison. Sua tese chama-se Inferência indutiva em padrões gerados por computador (Inductive Inference on Computer Generated Patterns).

 

Irmã Maria Gaetana Agnesi – Primeira mulher do mundo a ter uma cátedra universitária em matemática

Maria Gaetana Agnesi (1718 – 1799) foi uma matemática e filósofa italiana. Ela é conhecida por ter escrito o primeiro livro sobre cálculo diferencial e integral e foi membra honorária da Universidade de Bolonha.”  Durante os últimos 40 anos da sua vida, Maria Agnesi dedicou-se a estudar a teologia dos Padres da Igreja (Sto. Agostinho, S. João Crisóstomo, etc…) e a servir os pobres, isto é, Maria Gaetana Agnesi tornou-se uma freira Católica.

 

Edith Stein

Edith Theresa Hedwing Stein (Breslávia, 12 de outubro de 1891 — Oświęcim, 9 de agosto de 1942) foi uma filósofa e teóloga alemã. De origem judia, teve certa ocasião uma grande mudança em sua crença, a partir da leitura de um livro de Santa Teresa d’Ávila quando estava em casa da amiga Hedwig Conrad-Martius, em Beergzabern. A leitura a absorveu de tal forma que ela leu a noite toda e, quando fechou o livro, exclamou: “Eis a verdade!” Esta verdade que ela procurava tão ardentemente tinha uma face e um nome: Jesus Cristo! Mais tarde converteu-se ao catolicismo tornando-se freira Carmelita Descalça. Edith foi a segunda mulher a defender uma tese de doutorado em Filosofia na Alemanha, foi discípula e depois assistente de Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia. Já religiosa, anotou: “A fé está mais próxima da sabedoria divina do que toda ciência filosófica e mesmo teológica”. Morreu aos 51 anos, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.

5 – Observatório Astronômico Vaticano

A Igreja sempre teve uma ligação muito grande com a astronomia. O Observatório Astronômico Vaticano foi fundado pelo Papa Gregório XIII, em 1572, por recomendação do Concílio de Trento, que também recomendara uma nova reforma no calendário. Sua localização inicial era a Torre dos Ventos, no Palácio do Vaticano. Foi a partir das observações dos astrônomos Chistovam Clauvius e Aloisius Lillios que foram verificados erros no calendário juliano e pavimentado o caminho para o calendário gregoriano. Inicialmente matemáticos e astrônomos jesuítas trabalhavam no instituto e posteriormente, integrantes de outras ordens religiosas, como os barnabitas, os agostinianos e oratorianos. Atualmente a responsabilidade do observatório compete à Companhia de Jesus.

6 – Pontifícia Academia de Ciências

A Academia Pontifícia das Ciências é de âmbito internacional, multi-racial na composição, e não-sectária na escolha dos membros. O trabalho da Academia compreende seis grandes áreas: ciência fundamental, ciência e tecnologia de problemas globais; ciência para os problemas do mundo em desenvolvimento, política científica; bioética, epistemologia.

 

 

 

Caro leitor, como você pode constatar, a Igreja além de não ser inimiga da ciência, é uma grande promotora e protagonista no cenário científico. Não deixe que o ambiente escolar e universitário roube sua fé. Não tenha medo de estudar, sem, contudo, esquecer-se que foi criado para a Glória de Deus e a Ele devemos toda honra e louvor. Se estuda, estude vislumbrando o Criador de todas as coisas: Deus.

 

Paulo Franco Machado

 

Fontes

cleofas.com.br, Vatican.va, aleteia.com

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