Superar a dor do luto

A vida se desenvolve na dinâmica da acolhida e da despedida. Quando nasce uma criança ela é acolhida por aqueles que a esperam. Ela entra no convívio da família e  recebe o amor das pessoas. Essa acolhida vai se estendendo Igreja através do Batismo, na vizinhança através das relações sociais, na escola, na sociedade em seus mais variados níveis. Enquanto vai se dando essa acolhida também acontecem despedidas. Filhos deixam os pais para estudar, trabalhar, ou viver uma vocação específica no matrimônio, na vida consagrada, ou no  sacerdócio. Acolhida e despedida é uma dinâmica constante para quem vive. Quem participa de despedidas, para não sofrer muito, precisa dar liberdade para a pessoa partir e se alegrar com o seu futuro.

A morte é uma despedida. Na morte temos que nos despedir da pessoa que amamos. Temos que deixá-la partir para um encontro definitivo com Deus. É preciso olhar para o futuro e não querer aprisionar a pessoa no  passado, ou nas boas experiências que se viveu.

Não há para a pessoa humana maior certeza de que um dia a morte chegará para ela. Quem está vivo pode ser surpreendido a qualquer momento pela notícia do falecimento de uma pessoa amada. As notícias modificam os nossos sentimentos. A notícia da morte nos causa um espanto. Em geral o sofrimento dos enlutados é sempre muito grande.

Pensando em ajudar as pessoas a atravessarem esses delicados momentos, escrevi um livro sobre o tema: “Superar a dor do luto”, o livro foi publicado pelas Paulinas e está à disposição das pessoas interessadas, no Brasil e também em Portugal. São trinta meditações concluídas com a dinâmica da leitura orante da Bíblia. É um livro para ser meditado e rezado.

Não se pode negar a dor. Ela é sinal de vida. Somente os vivos sentem dor. Não se pode negar a morte e a dor do luto. Existem pessoas que no dia da morte de um parente próximo se comportam como se não tivesse acontecido nada. Ficam como se estivessem anestesiadas. É preciso viver a perda. É preciso chorar, ou se emocionar. É preciso viver o momento das lágrimas. Quem não faz isso acaba retardando os sentimentos que vão se manifestar posteriormente como uma dor, mais grave, causada por um ferimento que se infeccionou.

Não dá para passar pelo luto sem sofrer, sem a dor, mas é possível iluminar essa travessia com a fé. É preciso nestas horas procurar avistar longe, olhar para o futuro que Deus reserva aos seus filhos.

Deus como pai todos os dias assiste a morte de milhares de seus filhos, mas ele não sofre, pois para Ele a morte não é o fim. A morte é uma oportunidade para renovar nossa fé na vida eterna. Numa família quando algum membro recebe um prêmio todos se alegram. Na morte somos chamados a acolher a prêmio da vida plena oferecida por Deus. Olhando nesta dimensão se pode dizer que os enlutados precisam contemplar a alegria da salvação dada aos partem rumo ao encontro com Cristo na eternidade.

Dom Messias dos Reis Silveira

Bispo da Diocese de Uruaçu – GO

Presidente do Regional Centro Oeste – CNBB

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